Postado originalmente por
taz
Celso Vasconcellos era veterinário e dublador, hoje eu acho que ele não atua mais em nenhuma das duas profissões.
Com relação ao que Harry solicitou e minha opinião sobre o assunto:
Ser dublador não é nada fácil, isso é de conhecimento até do reino mineral, como diria Raimundo Faoro. Primeiro porque se trata de uma profissão extremamente desvalorizada em termos econômicos mesmo, onde se trabalha muito e ganha-se muito pouco, muita gente não fica só como dublador e trabalha em outras vertentes mesmo dentro da área como ser diretor e tradutor de dublagem, além de algumas vezes serem explorados e terem seus direitos negados por donos de estúdios e distribuidoras, que muitas perseguem aqueles que lutam por seus direitos. Segundo a outra forma de desvalorização é a falta de reconhecimento, o dublador é um personagem anônimo, ninguém vê, ninguém sabe quem é, hoje isso já se modificou bastante, pois existe a internet, existe o Dublanet, existem os créditos, isso permite que esses profissionais tenham o mínimo de reconhecimento. Ainda existe o preconceito com a dublagem dentro da categoria dos atores, muitos veem a dublagem como uma arte menor, um subgênero inferior dentro da arte de atuar, e ainda existe uma legião de pseudo-intelectuais que se acham superiores e dizem preferir assistir legendado, que dublagem é coisa pra analfabeto e que representa o atraso intelectual do nosso país, argumento falacioso, no mínimo, pois a dublagem foi criada no mundo desenvolvido e lá se mantem de maneira muito profícua, eu acho que se eles fossem tão bons assim porque não assistem no idioma original, porque a qualidade das legendas muitas vezes é sofrível. Quarto a impressão de que temos que a profissão sofre uma crise de ordem ética, é gente puxando tapete de gente, sem fazer segredo e as mal-fadadas panelinhas que são fato consumado e contribuem para diminuir a qualidade das produções dubladas, questões tão citadas em entrevistas por dubladores veteranos relegados ao esquecimento, pelos colegas, pelos diretores, pelos donos de estúdios e até pelos fãs. E uma coisa que eu queria acrescentar, que sai um pouco da questão, é a incapacidade de alguns dubladores de receber críticas, se existem críticas e se estas, por sua vez, forem respeitosas não existe problema nenhum, o que nós fãs queremos quando criticamos determinadas coisas na dublagem é que as coisas mudem, para melhor, estamos sim, divergindo, mas somos consumidores de um material produzido o qual foi pago e que será embutido no presso do produto, então, sim, exigimos qualidade nas coisas que forem dubladas e sim as críticas devem existir para aperfeiçoar o trabalho, desde que contundentes, obviamente.
Por tudo que escrevi, seguir a carreira de dublador não deve ser nada fácil, quando era guri brincava de ser dublador e até hoje imito os meus ídolos, mas não seguirei a carreira, primeiro porque fora do Eixo Rio-São Paulo as possibilidades são escassas, embora isso tenha mudado, e segundo que não quero ser mais um sem talento a trabalhar com uma coisa que pra mim é sagrada. Entendo as famílias que pedem pra seus filhos não sejam dubladores que você, Harry, citou, elas querem o que elas acreditam, leia-se o que a sociedade acredita, que seja o melhor. Muitos dubladores abandonaram a dublagem pra seguir outras carreiras por variados motivos, muitos destes estão vivos e fazem falta pois eram profissionais de qualidade, mas infelizmente tiveram que seguir outros rumos. Ser dublador é sim um tipo de teimosia, mas também um ato heróico. Caio César, hoje morto, foi herói duas vezes. É meus amigos, isso é Brasil.