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O Studio Gabia vinha de dois lançamentos em DVD “Sakura Card Captors: A Carta Selada” e “Vampire Princess Miyu”, ambos não tinham ido bem em vendagem, mas venderam o suficiente para não dar prejuízo, sendo assim seguiriam com o projeto, mas uma mudança foi feita. Cancelaram o lançamento seguinte “Samurai Girl”. Como eram dois lançamentos com protagonistas mulheres, resolvem apostar em algo com meninos para ver se vendia mais. Também escolheram um anime já previamente conhecido no Brasil, afinal a Sakura tinha vendido mais que a Miyu. Era uma época em que a internet não era tão popular (2003) e a TV aberta ainda tinha um papel muito importante na popularização de algo no país, assim surgiu a ideia de licenciar “Supercampeões 2002”.
- O título
Junior Fonseca e eu fomos contratados novamente para adaptação do texto para dublagem, editar a revista que acompanha o material (e a capa do DVD) e também criar extras para o DVD. Uma polêmica de cara foi o título do material. Como a ideia era apostar em um saudosismo, no que já tinha sido exibido na TV, sugeri usar o nome “Super Campeões 2002”, já o Junior queria o título original “Captain Tsubasa Road To 2002”. No final ficou “Super Campeões - Captain Tsubasa: Road To 2002” (sim, usando o original como subtítulo). Algo similar tinha ocorrido já no DVD de Sakura. Eu queria usar "Sakura Card Captors - O Filme" e o Junior queria "Cardcaptor Sakura: A Carta Selada". No fim ficou o meio termo "Sakura Card Captors: A Carta Selada".
- As vozes da dublagem
A diretora de dublagem seria inicialmente a Lucia Helena, ela sugeriu não se pautar pelas escalas da Gota Mágica e escalar do zero. Eu levantei o ponto de que a dublagem da Manchete não tinha nem cinco anos e o público de animê ser saudosista (se hoje ainda existem fãs da Gota Mágica, imagina em 2003) e lembrei das críticas pelas mudanças em Sailor Moon R. Os donos do Studio Gabia então combinaram que iria ocorrer um meio termo, que eu deveria fornecer os nomes que eu tinha e a Lucinha veria o que daria para manter e o que teria que trocar.
Vale lembrar que até hoje é difícil saber todo o elenco de vozes de Super Campeões na Manchete, especialmente após o episódio 35, em que a crise da Gota Mágica se agravou e ocorreram muitas trocas, inclusive dos protagonistas Oliver e Matsuyama. De cara fui avisado que não daria para manter o Hermes no Kojiro, acho que ele estava no Rio, e a Patricia Scalvi sugeriu o Fabio Lucindo. A Lucinha também queria colocar a Tatiane Keplmair na Sanae, pois disse que ela tinha mais voz de menininha líder de torcida, mas eu insisti para manter a Sandra Mara. No fim o acordo foi: manter os principais, como Marcio Araujo, Marcelo Campos, Rodrigo Andreatto e a Sandra, e as diretoras teriam liberdade para escalar os outros.
- Adaptação dos nomes
Eu sugeri apostar no saudosismo e manter os nomes da Manchete: Oliver Tsubasa, Roberto Maravilha, Carlos e Benji, por exemplo. Junior era contra, queria os nomes originais. Chegamos em um acordo de manter os nomes da Gota Mágica, mas não os sobrenomes, assim, seria usado Roberto Hongo. E assim eu passei a adaptar eles no texto.
A tradução era muito falha. Foi feita com base no japonês por alguém sem experiência em dublagem. Assim, nenhum vozerio ou reação estava indicado e nenhuma placa traduzida.
Nos episódios que fiz adaptação comecei a por anotações de reação dos jogadores, gritos da torcida e nomes de placas. Nisso a Patricia Scalvi me sugeriu simplificar as placas, já que muitos nomes eram complicados, assim um “Lamen House” (algo incomum, na época, no Brasil) virou simplesmente "Restaurante" e nos estádios e ginásios o locutor falaria apenas isso “Estádio” ou “Ginásio”, sem nomes próprios.
- Meu desligamento
Inicialmente foi dublado um lote de 7 episódios, que eu fiz a adaptação. Posteriormente dando certo outros seriam dublados. Durante a dublagem do episódio sete eu alertei o estúdio que as falas da personagem Yayoi não tinham ficado bacanas, que na planilha estava que ela seria dublada pela Rita Almeida e que ela tinha sido trocada por outra dubladora (que na época eu não sabia quem era), se não era possível redublar.
Neste momento fui dispensado e disseram que não precisariam mais do meu trabalho. Já tinha tido umas criticas minhas anteriores que não tinham sido bem recebidas e eu era um rapaz inexperiente profissionalmente, com apenas 19 anos, para saber os limites do que eu poderia falar para um chefe.
Tempos depois outros episódios foram dublados, pois foi feito um acordo para exibição do desenho na RedeTV! e no Cartoon Network. Do episódio 8 em diante a Patricia Scalvi passou a dirigir sozinha e sei que do episódio 8 ao 10 o Junior Fonseca ainda adaptou o texto, mas depois ele também foi desligado e outro profissional (que eu não sei o nome) assumiu.
Uma mudança que sei que ocorreu após minha saída foi uma mudança dos nomes (passaram a adotar os originais) e também parou de ter vozerios. Outra coisa foram mudanças de algumas vozes, eu ajudava revisando a planilha de escalas e após a minha saída sei que troca ocorreram, como a saída da Sandra Mara e a Tati passando a dublar a Sanae, como era a ideia original das diretoras.
- Coisas bacanas
Nesta época vi coisas muito boas no estúdio, como a diretora Patricia Scalvi preocupada com os dubladores. O Manabu seria dublado pela Julia Castro, mas ela não apareceu, então a Patricia pediu para a Marli Bortoletto, que estava no estúdio para dublar outro filme, fazer o personagem, já que a produção precisava ser entregue rapidamente. Após a Marli gravar tudo, a Julia chegou, ela teve problemas na estrada, que eu me lembre ela morava em Santos na época. A Patricia ficou triste, pois a Julia ainda era uma criança e fez um esforço de puxar dobras que só seriam feitas no dia seguinte para a Julia ter pelo menos uma escala e não perder a viagem. Enquanto isso a Marli disse que podia deletar o trabalho dela e passar para a Julia, que não precisavam pagar ela, outra bela atitude, mas no final isso nem precisou ser feito.
Também vi a Patricia preocupada em dar oportunidade a gente nova, que estava começando, como o Eduardo Sonsin, que depois nem seguiu carreira, e a Samira Fernandes, que ainda estava engatinhando na dublagem.
Também vi o Ely Moreno, que foi só fazer placas, mas mesmo assim ao chegar no estúdio queria entender o que era o desenho, perguntar o que era a cena, o que seria feito. A Patricia ainda fez uma brincadeira que ele não era só um locutor, que ele “interpretava as placas”.
Uma última história é que a Patricia Scalvi escalou o Carlinhos Silveira para fazer juiz dos jogos e que queria que fosse no dia para ele me conhecer. O Carlinhos era amigo dela e foi um dos dubladores que tinha criticado muito a ideia de uma pesquisa na internet com fãs para escalar os dubladores de Vampire Princess Miyu e ela achava bacana ele me conhecer e entender como tudo foi feito, que não foi algo imposto, que os nomes depois foram avaliados pelo estúdio, que existia uma segunda opção, etc...