Postado originalmente por
taz
Pois é. É um fato consumado isso de que a dublagem brasileira mudou. A dublagem paulista talvez tenha sido a primeira a sofrer os grandes impactos dessa mudança, muito mais cedo que a carioca. Eu diria que se trata de uma mudança a nível mais conceitual, a coisa perdeu muito aquela coisa de arte que tinha a princípio pautada na interpretação.
Eu costumo dizer que na verdade se esgotou aquele antigo conceito de "Versão Brasileira", hoje as coisa ficaram muito mais "DUBLADAS" do que antes. Quem já teve algum tipo de contato com alguns dos "cobras" da dublagem brasileira como Márcio Seixas, Carlos Campanile e Sumára Louise, dentre outros, sabe do que estou falando. A dublagem exige do ator uma boa interpretação, mas também exige um certo nível de fidelidade ao trabalho do ator original, o que em conjunto nos faz passar um ideia de verdade naquilo que estamos vendo e ouvindo. Esses caras mais antigos sempre se referem aos trabalhos que eles acham mais memoráveis como alguém que deixou o cara falando em português, ou seja, a boa dublagem exige essa discrição. A virtude de um bom dublador é parecer ser aquele ator que está ali. Por isso que o bom dublador ironicamente e paradoxalmente não está fadado ao sucesso, e sim ao anonimato. Porque ele empresta sua voz pra determinado ator, pra que as pessoas tenham a impressão de que ele está ali falando em português.
Eu me lembro disso perfeitamente falado pelos três que eu citei, Márcio Seixas falou sobre a dublagem de Chaves, que ele classificou como a melhor dublagem já realizada, Sumára Louise falou sobre o Telmo de Avelar dublando o ator Alec Guinness e Carlos Campanile falou sobre o Bruno Netto dublando o Don Adams, o Agente 86. Ambos utilizaram o mesmo argumento, com palavras diferentes óbvio, lembro-me claramente da coisa do "Deixou o cara falando em português", uma ideia que se fez onipresente nos três discursos.
Hoje eu vejo uma certa tendência da dublagem brasileira a buscar uma coisa mais enxuta na interpretação, mais contida mesmo, só que o problema é que a interpretação praticamente está sumindo, e ficando só o mero "preenchimento de bocas". Eu vi o membro Spider-Phoenix falando sobre o Fábio Lucindo, que ele tava parecendo mais um operário ali tentando pagar suas contas num outro tópico. Infelizmente não é só o caso do Fábio Lucindo. É o caso da Fernanda Baronne, é o caso da Adriana Torres, é o caso do Mauro Ramos e de tantos outros, esses caras são talentosos, mas não estão mais interpretando como antes eles faziam, o Mauro Ramos dos anos 90 tirou férias e parece que deixou um zumbi no lugar, eu me pergunto cadê a interpretação? Cadê aquela Adriana Torres, cadê aquela Fernanda Baronne que eu achava um máximo? Cadê?
No Rio de Janeiro, ainda percebo o seguinte, que existem duas vertentes, a vertente que se esqueceu em casa na hora que chegou ao estúdio, e a outra vertente é a que quer ser mais engraçada, mais extravagante que o ator que tá sendo dublado.
Nos dois casos a questão da discrição foi deixada de lado, uma pela falta de interpretação e a outra pelo excesso, pelo histrionismo exacerbado, típico de interpretação das novelas globais, aquela coisa extravagante, aquela gritaria, algazarra, aqueles excessos de drama, aquela coisa brega e cafona se estabeleceu aqui, e eles ainda se acham melhores que os mexicanos...
Eu já falei várias vezes aqui, e continuo falando, eu não assisto mais quase nada dublado. Antes as dublagens ainda me convenciam, mas de 2006 ou 2007 pra cá, não tem descido mais. Uma coisa ou outra ainda é "assistível", mas a maioria não desce mesmo.
Dizer que a dublagem de antigamente era perfeita é uma mentira das grossas. Nunca foi perfeita e nunca será, isso é de conhecimento do reino mineral. Mas o fato é que havia sim um cuidado maior na interpretação.