Maldoxx Escreveu:Achei este texto necessário, pois não apenas concordo, como também vejo que ele passou a ser até mais subestimado quando o Mauro se mudou para São Paulo. Parece que ele ficou mais "distante", menos presente, sendo que isso obviamente não é verdade.Perfeito, é exatamente o que eu estava pensando - eu não sei se o Márcio, o Jorge ou o Alexandre seriam o que são pra nós hoje se tivessem começado nos anos 60-70, na AIC por exemplo; não porque eles são menos talentosos que o pessoal daquela época, mas porque eles tem um estilo que talvez não encaixasse tão bem na época em meio aos tantos radioatores e estrelas de cinema e televisão. O Mauro, ao meu ver, conseguiria, porque mesmo que o mercado fosse mais "hostil" na época de certa forma, no fim das contas a questão da atuação franca que eu falei é algo difícilimo de negar... acho que acabariam tendo que engolir seco e incorporar o cara nos elencos, porque ele é talentoso nesse nível mesmo.
Mauro Ramos tem aquele jeito de interpretar de uma geração anterior. Ele tem muito da escola dos anos 60-70, coisa que nem mesmo seus pares geracionais, como o Jorge Lucas, Alexandre Moreno e Márcio Simões possuem. Não sei, fico com aquela sensação de que o Mauro evoca um passado que já se foi quando ele interpreta, o que sempre me deixou particularmente maravilhade. Um grande ator, sem dúvida nenhuma. É um daqueles nomes que você associa imediatamente com o aspecto mitológico da máxima "a dublagem brasileira é a melhor do mundo".
Existe um estranhamento muito grande, em geral, com obras muito antigas dubladas mais recente (tipo, anos 90 pra frente), e eu sempre fico muito feliz quando vejo uma dublagem que consegue capturar a vibe da época, não só honrando as atuações originais mas também as dublagems originais, e eu menciono tudo isso com um exemplo em mente: "Frankenstein" de 1931, a dublagem da Double Sound. Mauro Ramos dubla tanto o Dr. Frankenstein quanto algumas reações da criatura num arranjo que, apesar de tosco, tem um charme inegável. Lina Rossana, André Bellisar, Alexandre Moreno, Guilherme Briggs, Orlando Drummond e outros compõem o elenco, mas pra mim, quem dá o show é o Mauro. Nem tem nada a ver com o Mauro, em tese, o Colin Clive como Dr. Frankenstein, mas funciona e eu acho que parte do motivo que funciona é o mesmo motivo pelo qual certas escalações do passado funcionavam mesmo quando o dublador não tinha a voz exatamente certinha pro papel — por causa desse estilo de atuação que consegue ser contido e extremamente marcante ao mesmo tempo.
Aliás, que bom que você me fez lembrar dessa redublagem do Frankenstein, porque eu já falei dela algumas vezes e geralmente é num tom de brincadeira por causa dessa questão do Mauro Ramos fazer reações da criatura, ou de ser um elenco bem "desenho do Cartoon Network anos 2000" e isso acabar criando um efeito que retarda o aspecto "terror" do filme, porque você tá ouvindo as vozes dos caras do Aqua Teen fazendo um filme dos anos 30, é quase "Mystery Science Theater 3000" ou Tela Class mas o talento dos profissionais envolvidos (destaco, sobretudo, Mauro, Lina e Bellisar) meio que segura as pontas.
Inclusive eu cheguei a ver o filme depois com a dublagem da AIC (que por muito tempo foi considerada perdida) e pra mim não foi a mesma coisa, já tinha me acostumado com a redublagem.
True love will find you in the end.